Aula 32 – FÓRUM Entre a Terra e o Céu

FÓRUM Entre a Terra e o Céu

 

Cap.19 – Dor e surpresa.

– Júlio! Júlio! comparece, covarde! … – bramia o enfermeiro, possesso.
E percebendo talvez a simpatia que Amaro nos conquistara, à face da serenidade com que suportava a situação, prosseguiu, invocando, revel:
– Comparece para desmascarar o patife que procura comovernos!
Júlio, odeio-te! Mas é necessário apareças! Acusa teu desalmado assassino!…
O Ministro procurava contê-lo, bondoso, mas Silva, como potro indomesticado, gesticulava a esmo e continuava, conclamando:
– Júlio!… Júlio!…

Cap.20 – Conflitos da alma.

Voltando à residência de Amaro, ainda conseguimos observá-lo, fora do veículo denso, em conversação com Odila, sob o amparo direto de nosso orientador.
A primeira esposa do ferroviário, identificando o marido, provavelmente com o auxílio de Clarêncio, abandonara Zulmira por instantes e ajoelhara-se-lhe aos pés, rogando, súplice:
– Amaro, expulsa! Corre com esta mulher de nossa casa! Ela furtou a nossa paz… Matou nosso filho, prejudica Evelina e transtorna-te!…
Apontando a enferma com terrível olhar, acentuava:
– Porque reténs semelhante intrusa?

Cap.21 – Conversação edificante.

Enquanto regressávamos ao nosso círculo de trabalho e de estudo, para articular novas providências de auxílio em favor dos protagonistas da história que a vida estava escrevendo, concluí que não me cabia perder a oportunidade de mais amplo entendimento com o nosso orientador, com alusão aos esclarecimentos que nos fornecera, acerca do perispírito.
Assim como o homem comum mal conhece o veículo em que se movimenta, ignorando a maior parte dos processos vitais de que se beneficia e usando o corpo de carne à maneira de um inquilino estranho à casa em que reside, também nós, os desencarnados, somos compelidos a meticulosas meditações para analisar a vestimenta de que nos servimos, de modo a conhecer-lhe a intimidade.

Aula 27 – FÓRUM ENTRE A TERRA E O CÉU

FÓRUM ENTRE A TERRA E O CÉU

CAPÍTULOS QUE SERÃO DEBATIDOS

Cap.16   – Novas experiências.

Noite fechada e alta, tornamos ao domicílio do enfermeiro, seguidos de Clarêncio, que funcionava, como sempre, junto de nós, por mentor diligente e amigo.
Mário Silva, estirado nos lençóis, debalde procurava dormir.
O sonho da véspera castigava-lhe o pensamento.

Ruminando as impressões da manhã, refletia de si para consigo:– “seria realmente Amaro, o rival, quem lhe surgira na forma de um criminoso? e aquela mulher chorosa e acabrunhada seria, porventura, Zulmira, a companheira de infância, que ainda lhe feria as recordações? Onde o motivo de semelhante reencontro? Teimava em afastar para longe as reminiscências da mocidade… por isso mesmo, não acreditava estivesse nele próprio a causa do estranho pesadelo…

Cap.17 – Recuando no tempo.

Depois do nosso esforço de autocondensação, para o necessário ajuste vibratório, Clarêncio abeirou-se dos dois amigos, com o amoroso poder que lhe era característico, e, em nos reconhecendo, Mário associou-nos a presença ao pesadelo da véspera e passou a clamar:
– Meu caso não é com a polícia!… Não precisamos de qualquer delegado aqui!…
– Acalma-te, amigo! – respondeu o Ministro, atencioso. –
Não somos quem julgas. Estamos aqui para que te lembres… É indispensável te recordes.
E, situando a destra na fronte do enfermeiro, reparamos que
Mário Silva aquietava-se, de repente.

Cap.18 – Confissão.

Amaro, cujo semblante exibia os sinais de renovação a que nos reportamos, começou a dizer, comovido:
– Sim, recordo-me perfeitamente… A madrugada do Ano Bom de 1869 ficou marcada para sempre em nossa memória… Abordaríamos Assunção, procedendo de Santo Antônio, em angustiosa expectativa… A curiosidade abafava a exaustão… Lembro-me de que, antecedendo-se ao desembarque, Esteves procurou- nos, solicitando-nos o concurso fraterno para a solução de um problema que reputava importante para o futuro que o aguardava… Éramos três amigos inseparáveis na caserna e achávamo-nos os três juntos… Ele, Júlio e eu…

Aula 23 – FÓRUM ENTRE A TERRA E O CÉU

FÓRUM ENTRE A TERRA E O CÉU

CAPÍTULOS QUE SERÃO DEBATIDOS

Cap.13 – Análise mental.

O relógio terrestre assinalava meia-noite e três quartos, quando tornamos ao singelo domicílio de Antonina.
A casinha dormia, calma.
Acocorado a um canto, o velho Leonardo mantinha-se na sala, pensando… pensando…
Adensamo-nos, ante a visão dele, e, reconhecendo-nos, ergueu- se e começou a gritar:
– Ajudai-me, por amor de Deus! Estou preso! preso!…
Clarêncio, bondoso, convidou-o a acomodar-se na poltrona simples e induziu-o à prece.
O velhinho, contudo, alegou total esquecimento das orações que formulara no mundo, crendo que apenas lhe serviriam as palavras decoradas, mas o orientador, elevando a voz, com o intuito evidente de sossegá-lo na confiança íntima, pronunciou comovente súplica à Divina Providência, implorando-lhe proteção e segurança para quem se mostrava tão desarvorado e tão infeliz.

Cap.14 – Entendimento.

Antonina, modificada, esfregava os olhos como quem não desejava acreditar no que via, mas, resignando-se à evidência, continuou:
– Compadece-te de mim! compadece-te!…
– Lola, donde vens? – perguntou o infeliz.
– Não me induzas a lembrar!…
– Não lembrar? Que condenado no tormento da expiação será capaz de esquecer? A culpa é um fogo a consumir-nos por dentro…
– Não me reconduzas ao passado!…
– Para mim é como se o tempo fosse o mesmo. O inferno não tem horas diferentes… A dor paralisa a vida dentro de nós…
– É preciso olvidar…
– Nunca! O remorso é um monstro invisível que alimenta as labaredas da culpa… A consciência não dorme…

Cap.15 – Além do sonho.

Tornando a Esteves, Clarêncio ofereceu-lhe o braço amigo, mas o moço prorrompeu em súplica:
– Não me prendam! Não me prendam! Sou a vítima!…
O Ministro absteve-se de continuar em sua afetiva manifestação.
No passo vagaroso de quem carrega um fardo de aflição, o inimigo de Leonardo retirou-se para a via pública, regressando ao aconchego doméstico.
Seguimo-lo a pequena distância.
Renovava-se o dia.
Pedestres marchavam diligentes, na direção do trabalho.
Bondes rangiam, sonolentos, e os autos, aqui e ali, começavam
a transitar pelas ruas.
Em breve tempo, o rapaz, seguido de nosso grupo, estacionou à frente de vasto conjunto residencial.
Grande relógio próximo exibia o mostrador.

Escala 2tri16